O Beco


A noite estava muito fria.

A cidade parecia mais sinistra e sombria que o normal, talvez fosse pela névoa densa, quase sobrenatural que permeava as ruas ou talvez fosse o silêncio absoluto e ausência de qualquer movimento que transformava as ruas enlameadas numa pintura sombria.

A madrugada avançava, mas não havia luz, apesar da lua cheia, pois pesadas nuvens escureciam todo o céu.

Era uma noite de trevas, daquelas em que os seres que povoam os pesadelos das crianças estavam à solta espreitando.

Em meio a esse cenário lúgubre, um pequeno ser se movimentava quebrando a inércia daquele momento. Um pequeno gato faminto saltou de um telhado sobre um muro. Farejou o ar e perscrutou a escuridão com seus olhos de amarelo intenso e pupilas verticais.

Com seus pelos completamente negros ele desapareceu em meio às brumas quando saltou do muro para o chão.

Como uma sombra se movimentando rua abaixo o gato observava cada detalhe. Subitamente parou em alerta, farejou o ar novamente para ter certeza. Miaram alto na escuridão e, em resposta ao seu chamado, dezenas de gatos surgiram saindo de bueiros, telhados, e latas de lixo.

Logo a rua tornou-se uma fúnebre sessão de miados estridentes.

Seguindo o pequeno gato preto todos os demais avançaram pela rua até pararem diante de um beco imundo e entulhado de lixo, mas o cheiro que exalava não era apenas o lixo, era o cheiro de sangue. Sangue fresco.

Enquanto os gatos lambiam uma poça de sangue na saída do beco, o pequeno gato caminhou lentamente entrando no beco seguindo um filete de sangue até sua origem, como se o pequeno gato fosse realmente curioso.

Em meio aos entulhos de lixo havia um corpo jogado com os braços lânguidos num ângulo improvável. Sacos de lixo e jornais velhos cobriam parte do cadáver e escondiam seu rosto.

Subitamente todos os gatos, exceto o pequeno gato preto, miaram alto saíram correndo daquele lugar. Um cheiro estranho permeou o ar.

Alguma coisa assustou os gatos...


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